
49 anos de um amanhecer
"Trocaram tudo em maldade
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei de morrer sem saber
qual a cor da liberdade."
- Jorge de Sena (1919 – 1978)
Há 49 anos, imagino que tenha amanhecido praticamente da mesma forma que no dia de hoje, pelo menos a nível físico: o sol nasceu, como faz todos os dias, iluminando o mundo numa manhã de abril aparentemente mundana.
Mas, há 49 anos, amanhecia também algo maior que os astros e com mais força que qualquer fusão nuclear solar: amanhecia a Revolução.
Depois de tantas décadas debaixo da bota imunda da ditadura de Oliveira Salazar e Marcello Caetano, o novo dia teria de chegar, mais cedo ou mais tarde.
Já nos diz a nossa grande Sophia de Mello Breyner Andresen: "Esta é a madrugada que eu esperava" - há precisos 49 anos, este era o último dia do fim das nossas vidas enquanto país amordaçado, calado para sempre e torturado até falar, só quando conviesse; a Liberdade estava a chegar e já se sentia eletricidade no ar, há 49 anos.
Feliz ou infelizmente, há 49 anos, quando se fez Abril, eu ainda não era nascida: significa isto que já nasci em Abril, já nasci livre. Significa também que é da minha responsabilidade, enquanto filha desta luta e herdeira das suas dádivas, defender as suas conquistas com tanta dedicação como aquela que tinham os homens e as mulheres que as conseguiram.
Isto porque quem nos disser que Abril vive intocado e sagrado está a mentir-nos: tal e qual como houve quem não quisesse o sucesso da Operação Fim-Regime, continuam a existir sanguessugas e vampiros, que fazem da sua missão de vida destruir o que Abril ergueu na madrugada de há 49 anos.
Como podem reparar os mais astutos, já vivemos há mais tempo em democracia desde o dia 25 de Abril do que vivemos durante a ditadura; significa isto que os valores de Abril são indestrutíveis e, por isso, não faz parte do dever cívico dos cidadãos portugueses protegê-los? Definitivamente, não. A democracia é, como demonstra a nossa ditadura tão longa e tão repressiva, um bem preciosíssimo e, em muitos momentos, frágil; a sua defesa passa por cada um de nós, de cravo ao peito e punho erguido, trazendo Abril à rua como se não se tivessem passado 49 anos.
Mas os dias de hoje e de amanhã, além de grandes dias de luta, são gloriosos dias de celebração: celebramos a vida daqueles que perdemos para o regime e que, infelizmente, não puderam ver o desabrochar dos cravos que plantaram; celebramos a garra e determinação dos Capitães de Abril, que arriscaram tudo em prol de um ideal maior e celebramos, conjuntamente, todos aqueles que ergueram a casa em que vivemos hoje, pois são quem merece as mais elaboradas homenagens durante estas celebrações.
No entanto, que a mensagem principal seja a seguinte: a democracia, muitas vezes, corre perigo sem que sequer nos demos conta. Não obstante, é o nosso bem mais precioso – deve ser protegida a todos os custos, já que foi recuperada com o sangue, a determinação e a coragem de milhares de pessoas.
Devemos isso a quem nos deu Abril.
25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca Mais!
O NESTEU - Núcleo de Estudantes de Estudos Europeus da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa - assinala e celebra assim o 49.º aniversário da Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.
Beatriz Mestre, Estudos Europeus, FLUL