Alameda da Universidade, Lisboa

50 Anos da Liberdade dos Cravos

25-04-2024
Fonte: Só Pra Ti
Fonte: Só Pra Ti

A data de hoje não passa despercebida entre os portugueses e todos aqueles que, de alguma maneira, estiveram envolvidos naquela que foi a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974. A Revolução que trouxe a Portugal a Liberdade, pondo fim à ditadura totalitária, conservadora, repressora e agressiva, liderada inicialmente por António Oliveira de Salazar de 1933 a 1968 seguido por Marcelo Caetano, derrubado pelo MFA (Movimento das Forças Armadas) a 25 de abril de 1974 acabando com o regime do Estado Novo.

O “dia da Liberdade” originou tempos agitados entre os portugueses, pois verificou-se uma grande instabilidade social, política e militar (PREC – Processo Revolucionário em Curso), da qual despoletaram manifestações e greves, dando lugar ao Governo Provisório.

Há 50 anos instalou-se em Portugal um processo de democratização do país, com uma forte tendência socialista e, dois anos após o Golpe de Estado, a 25 de abril de 1976, entrou em vigor a nova Constituição.

Mas afinal, o que fizeram estes 50 anos de Liberdade a Portugal e à sociedade portuguesa?

Portugal da década de 1960 era um país extremamente atrasado relativamente à restante Europa, a sua indústria não tinha grande relevância, a maioria da população vivia nas aldeias a trabalhar nos campos com recursos escassos, sem quaisquer mecanismos, levando também a atrasos na agricultura. Isto gerava a fome e, para complementar estas condições de vida decadentes, não havia saneamento nem eletricidade, quatro em cada cinco casas não tinham banho, dois terços não tinham água e metade não tinham eletricidade.

A população era extremamente pobre, e como não haveria de ser? Se o trabalho infantil era normalizado ao ponto da maioria das crianças da altura não completarem o 4º ano, e aqueles que o concluíam, faziam-no em más condições. Não havia escolas, poucos chegavam ao ensino secundário e mais poucos ainda conseguiam ter condições para frequentar a universidade.

Claro, sem formação, Portugal tinha mais de 40% da sua população analfabeta, levando a que houvesse muita pouca confiança nos empresários portugueses e para piorar, receava-se o excesso de investimentos estrangeiros. Como haveria Portugal de evoluir assim?

A sociedade portuguesa tinha de se limitar à pouca Liberdade que tinha, que no caso, não era nenhuma. Tinham de obedecer cegamente ao Estado Novo, e qualquer um que se atrevesse a ter algum tipo de ideia revolucionária, ou que simplesmente fugisse ligeiramente às ideologias do regime ditatorial, era levado pela PIDE, torturado, preso, se não morto até.

Nas escolas assistiam-se a discursos nacionalistas, havia um único manual em todo o país o “Livro Único” o qual continha textos que incentivavam o sentimento de patriotismo e nacionalismo, publicitando a vida rural e o serviço militar.

Sentia-se um extremo sufoco, a censura não permitia que nada minimamente fora da ideia do governo português, entrasse sequer em Portugal, a arte, a música, o cinema e o teatro eram controlados ao mínimo detalhe gerando uma sociedade fechada ao mundo.

Os partidos políticos eram proibidos e era só permitida a religião católica. O Estado e a Igreja é que mandavam no país rural, atrasado, pobre e extremamente conservador.

O conservadorismo era de tal modo restrito que qualquer demostração de afeto em público era repudiada e com direito a multa, caso fosse fora do casamento. Os comprimentos das saias das professoras eram controlados e as médicas e enfermeiras tinham de pedir autorização ao governo para casar. O divórcio era extremamente mal visto e coitada da criança que fosse de pais separados, era uma tragédia.

Mais trágico ainda era a disparidade dos direitos das mulheres, estas só podiam votar caso fossem chefes de família, com determinadas características, os seus salários eram menos de metade dos salários dos homens, eram completamente subordinadas aos maridos, pois sem a sua autorização não podiam ter um passaporte, nem viajar, ter conta bancária, alugar casa, assinar contratos comerciais ou abrir uma empresa.

A boa mulher era aquela que mantinha o lar imaculado e que tivesse o dom de receber as visitas, era aquela que tinha sempre uma boa disposição e paciência para o marido abusivo, quando chegasse a casa, de onde andasse. A boa mulher era aquela que tinha vários filhos e que um bom cozinhado proporcionava à família.

Através da Guerra do Ultramar, juntamente com o serviço militar e os homens a trabalharem na construção, as mulheres viram-se “forçadas” a trabalhar fora de casa, no entanto, só após o 25 de Abril, é que deixou de haver “profissões fechadas” ao sexo feminino…

“O que é isto?” “É a Revolução!” *

Posto isto, a partir do dia 25 de Abril de 1974, verificou-se uma evolução significativa de Portugal, da sua sociedade, política e economia. Portugal evoluiu, libertou-se, da censura, da repressão, do medo constante.

Hoje, todos são livres para votar, votar tornou-se não só um direito, mas um dever cívico. As mulheres trabalham em todo o lado, sem restrições, embora ainda haja algumas diferenças salariais e de justiça nesta área, algo pelo que se luta ainda. Mas são livres de casar, ter filhos, sem ter medo da mortalidade infantil elevada, e divorciarem-se.

Hoje, somos livres para escrevermos o que quisermos e ler o que bem entendermos, os artistas são livres para fazerem a arte que gostam, as letras das canções e os jornais não são mais rabiscadas pelo lápis azul, os teatros e cinemas são livres de representarem qualquer critica ou sátira, seja ela ao que for. Tudo isto, graças à Liberdade de expressão.

Hoje, as casas têm eletricidade e água canalizada, há estradas e transportes, há educação e saúde, há condições. A criança e o idoso são valorizados, o Estado ajuda e não despreza. Portugal libertou-se e abriu as suas portas ao mundo, deu-se a conhecer, e que bonito é Portugal!

Graças à Liberdade que os cravos nos trouxeram há 50 anos, hoje somos uma população menos ignorante e vivemos com esperança de melhorar o que pode ser melhorado, pois, atualmente, ainda há muito a ser trabalhado e não nos podemos esquecer do que se fez em 1974, há que dar à Liberdade a devida dignidade e respeito. A sociedade portuguesa não se pode deixar ficar se não quer voltar à repressão do antigamente.


Alice Pereira

Núcleo de Estudos Europeus da Universidade de Lisboa
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