
A presença do Grupo Wagner em África e a relação UE-África
Parte Introdutória
A operacionalidade militar da Federação Russa em solo ucraniano a partir de fevereiro de 2022, não representa uma novidade e é uma tragedia que detém especial interesse para o Ocidente. Com o desenrolar do conflito, tornou-se comum verificar nos noticiários algumas notícias sobre as forças militares russas, entre as quais o célebre Grupo Wagner. Mas, o que é o Grupo Wagner?
Segundo o Presidente francês, Emmanuel Macron, «trata-se de um grupo de mercenários criminosos». [1] No entanto, as opiniões divergem entre os representantes dos diversos Estados reconhecidos pelas Nações Unidas.
O que é o Grupo Wagner?
O Grupo Wagner é uma empresa militar privada que foi fundada na Rússia há cerca de 9 anos atrás por Yevgeny Prigozhin [2]. Consta-se que, cerca de 80% dos seus membros foram recrutados em prisões. O seu centro de treino localiza-se perto da base do GRU (serviço de inteligência militar russo).
Além disso, os membros das milícias Wagner são conhecidos por defenderem ideologias e organizações de extrema-direita. Destaca-se também que estão acusados da prática de vários crimes de guerra, nomeadamente tortura, violação, entre outros.
Atualmente, o Grupo Wagner desempenha atividades na Ucrânia, Síria, Líbia, Moçambique, República Centro-Africana, Mali, Sudão, Níger, Madagáscar, Burkina Faso, etc. É possível concluir que as suas forças militares estão presentes em diversos países africanos. Por isso, é necessário perceber quais são os seus interesses no continente africano e determinar o nível de influência da Rússia nos respetivos países.
África
Nos últimos anos, Prigozhin tem organizado expedições militares em África a fim de proteger as empresas russas com ligações ao Kremlin, que exploram os negócios inerentes à mineração de pedras preciosas.
Contudo, o Grupo Wagner possui uma presença bastante significativa nos países localizados na região do Sahel. [3] A meu ver, esta situação comprova que a Federação Russa tem vindo a adquirir preponderância neste continente, porque o seu governo está a fortalecer as suas relações diplomáticas com estes Estados africanos. As razões mais evidentes que explicam esta questão são as seguintes:
- A deterioração das relações entre a França e os EUA com os Estados do Sahel.
- O passado colonial europeu.
- O terrorismo islâmico.

Em primeiro lugar, as relações externas da França com as suas antigas colónias estão cada vez mais débeis. Por exemplo, o governo do Mali decidiu expulsar o embaixador francês do seu território, há poucas semanas atrás.
Relativamente aos EUA, as relações deste país pioraram com o Mali e Burkina Faso, a partir do momento em que o Presidente Joe Biden suspendeu o acesso ao comércio livre dos dois Estados ao mercado norte-americano. [4]
Segundo, há cada vez mais países africanos que preferem desenvolver relações de parceria com a Rússia, devido ao seu auxílio prestado às antigas colónias durante a fase de descolonização pela antiga URSS, que ocorreu após a II Guerra Mundial.
Terceiro, os Estados do Sahel enfrentam perturbações graves relativamente à sua segurança. A proliferação crescente de terroristas islâmicos originou a queda de vários governos, o agravamento de crises humanitárias e a existência de ameaças à integridade territorial dos Estados referidos estão a causar uma instabilidade sociopolítica elevada. Porém, a França tomou algumas medidas que não beneficiaram os habitantes do Sahel, como o fim da operação antiterrorista Barkhane.[5] Portanto, este fator contribui ainda mais para o sentimento anti-França, que está a crescer nesta região africana.
Por outro lado, o Grupo Wagner forneceu não só equipamento militar, como também militares para auxiliar os Executivos do Burkina Faso, República Centro-Africana, Mali, entre outros países, na defesa contra as ofensivas terroristas.
A relação UE-África
No dia 29 de março, o NESTEU[6] organizou uma Mesa Aberta Presencial sobre o tema «A Relação da Europa e a África na dimensão securitária» com o Observatório do Mundo Islâmico.
Durante esta sessão foram abordados vários temas. Relativamente à segurança, salienta-se que a UE está a fracassar na sua tarefa de auxiliar os países africanos no combate quer ao fundamentalismo islâmico, quer aos grupos beligerantes responsáveis pelos sucessivos conflitos armados no Sahel.
O domínio da energia também foi mencionado pelos oradores do painel. Neste contexto, discutiu-se o potencial energético da região do Maghreb. Nesta região, localizam-se os gasodutos que abastecem os países da Europa Mediterrânica e do Sul, a saber:
- Medgaz: Argélia-Espanha.
- Galsi: Argélia-Itália. fig.1 - Mapa dos gasodutos
- Trans-Mediterrâneo: Argélia-Itália.
- Greenstream: Líbia-Itália.
Na minha perspetiva, a UE deve possuir uma relação cooperativa com os países do Maghreb em matéria energética dado que os seus Estados-Membros dependem diretamente do gás natural oriundo de África, nomeadamente aqueles que se localizam perto do Mar Mediterrâneo.
O governo argelino decidiu encerrar o gasoduto Maghreb-Europa em 2021, que ligava a Argélia ao território espanhol via Marrocos. Esta decisão foi tomada devido à crise diplomática entre os governantes argelinos e marroquinos.
Consequentemente, Portugal e Espanha gastaram mais dinheiro nas importações de gás natural liquefeito, porque as taxas de embarque dos navios são mais caras. [7]
Assim, este exemplo demonstra que uma relação UE-África fortificada proporciona vantagens para os países europeus. Por outro lado, uma parceria cooperativa entre a UE e África pode auxiliar a Comissão Europeia a cumprir com facilidade os seus compromissos com a União Africana, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e a Comunidade da África Austral no âmbito do Acordo de Cotonou. [8]
Conclusão
Em modo de conclusão, o Grupo Wagner possui uma excelente organização no continente africano. Esta empresa militar tem auxiliado o governo russo nos últimos anos, no sentido de expandir a sua influência nas Relações Internacionais.
A União Europeia necessita de retomar o diálogo com os países do Sahel, caso queira afastar a presença da Rússia nesta região. Por isso, a Comissão Europeia deve criar um plano concreto para a área da defesa e da segurança internacional, visto que a UE não possui uma estratégia coesa neste domínio.
O exemplo apresentado em relação aos Estados localizados no Maghreb, comprova que os litígios mundiais comprometem o fornecimento energético dos países europeus.
[1] https://pt.euronews.com/2023/03/04/o-que-e-afinal-o-grupo-wagner , acedido a quatro de abril de 2023
[2] Oligarca e empresário russo.
[3] A região do Sahel estende-se do Senegal até ao Mar Vermelho.
[4] https://carnegieendowment.org/2023/02/28/russia-s-growing-footprint-in-africa-s-sahel-region-pub-89135 , acedido a quatro de abril de 2023
[5] https://edition.cnn.com/2021/06/10/europe/france-sahel-operation-barkhane-end-intl/index.html , acedido a quatro de abril de 2023
[6] Núcleo de Estudantes de Estudantes de Estudos Europeus.
[7] https://www.dn.pt/dinheiro/argelia-fecha-hoje-gasoduto-do-magrebe-que-serve-espanha-e-portugal-14275141.html , acedido a cinco de abril de 2023
[8] O Acordo de Cotonu é o quadro geral para as relações da UE com os países de África, das Caraíbas e do Pacífico.
Pedro Moreira, Estudos Europeus, FLUL
Webgrafia
https://pt.euronews.com/2023/03/04/o-que-e-afinal-o-grupo-wagner acedido a quatro de abril de 2023
https://carnegieendowment.org/2023/02/28/russia-s-growing-footprint-in-africa-s-sahel-region-pub-89135 acedido a quatro de abril de 2023
https://edition.cnn.com/2021/06/10/europe/france-sahel-operation-barkhane-end-intl/index.html acedido a quatro de abril de 2023
https://www.dn.pt/dinheiro/argelia-fecha-hoje-gasoduto-do-magrebe-que-serve-espanha-e-portugal-14275141.html acedido a cinco de abril de 2023
https://en.wikipedia.org/wiki/Trans-Mediterranean_Pipeline acedido a cinco de abril de 2023