Alameda da Universidade, Lisboa

Os mísseis norte-coreanos na Ucrânia

17-01-2024

Todos os dias verificamos notícias nos media que sintetizam a realidade da política internacional. A comunicação social tem apresentado diversas peças, sobretudo no problema inerente à ameaça da segurança mundial. Hoje em dia, presenciamos duas guerras que têm um destaque particular no palco das Relações Internacionais: o conflito armado entre a Federação Russa e a Ucrânia e também a guerra entre Israel e o Hamas.

Neste contexto, gostaria de falar sobre um tema específico, que surgiu após os Estados Unidos da América (EUA) e o Reino Unido (RU) anunciarem duras críticas direcionadas ao governo russo. Estes dois países criticaram o Kremlin, alegando que as Forças Armadas russas estão a utilizar mísseis norte-coreanos, com o intuito de atacar a Ucrânia. Por isso, gostaria de explorar este assunto, de uma forma pormenorizada.

De acordo com John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança nacional dos EUA, a Rússia disparou um conjunto de mísseis balísticos fornecidos pela Coreia do Norte, durante a primeira semana de janeiro. De facto, alguns oficiais das Forças Armadas dos EUA informaram os jornalistas que estes mísseis foram encontrados na região ucraniana de ZaporizhzhiaA declaração de Kirby corrobora as declarações publicadas pelas autoridades de inteligência sul-coreanas. Em novembro de 2023, a Coreia do Sul avisou a comunidade internacional, afirmando que Pyongyang enviou mais de 1 milhão de projéteis de artilharia para a Rússia.

No entanto, segundo um artigo publicado pelo The Guardian, um oficial da Força Aérea ucraniana comentou que a Ucrânia ainda não tinha confirmado se a Rússia havia utilizado mísseis produzidos pela Coreia do Norte. Existem poucas informações, sobre o material de guerra norte-coreano, mas relativamente aos mísseis balísticos, Kirby referiu que possuem um alcance de 900 km. O referido porta-voz do Conselho de Segurança norte-americano apresentou ainda a posição dos EUA nas Nações Unidas, relativamente a este assunto. Assim, os EUA iriam considerar o comércio de armas entre a Rússia e a Coreia do Norte como uma violação de um embargo internacional de armas.

Estas situações comprometem bastante a segurança internacional. Mas, ainda há mais detalhes para explorar. As autoridades norte-americanas acreditam que em troca dos mísseis balísticos, a Rússia está a fornecer material bélico ao governo norte-coreano. Este material inclui aviões de guerra, mísseis terra-ar, veículos blindados, entre outros equipamentos. O governo russo procurou desenvolver uma cooperação económica com a China, especialmente a partir do momento em que iniciou a sua intervenção militar na Ucrânia. Não obstante, fortaleceu a sua relação com o Irão e a Coreia do Norte, nomeadamente a nível militar.

Em outubro de 2023, Serguei Lavrov anunciou aos jornalistas que a relação entre a Federação Russa e o governo norte-coreano atingiu um "nível qualitativamente novo e estratégico". Estas declarações foram anunciadas após o encontro com a Ministra dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, Choe Son Hui, na capital norte-coreana.

Na minha opinião, o comércio de equipamentos militares entre a Rússia e a Coreia do Norte resulta dos embargos comerciais, que foram decretados aos respetivos países. Se, por um lado, a Rússia adquire a vantagem de renovar o seu estoque militar, tal ainda permite que Kim Jong-un obtenha receitas financeiras, para o seu país.

Por fim, a entrega dos mísseis norte-coreanos ao governo russo parece ser evidente, tendo em conta as situações mencionadas. No entanto, este tema constitui apenas um pequeno pormenor de uma guerra que não tem um fim à vista. Eu diria que as relações entre Estados não são construídas, tal como são as relações entre os seres humanos. A arte diplomática acompanha sempre o jogo da política internacional, que muitas vezes não é tão transparente, como deveria ser.

Fig. 1 - Serguei Lavrov e Choe Son Hui
Fig. 1 - Serguei Lavrov e Choe Son Hui

Pedro Moreira

Webgrafia: https://www.theguardian.com/world/2024/jan/04/russia-attacked-ukraine-with-north-korea-supplied-ballistic-missiles , acedido a 16.01.2024. https://www.washingtonpost.com/national-security/2024/01/04/russia-north-korean-missiles-ukraine/ , acedido a 16.01.2024. https://www.euronews.com/2023/10/19/russia-north-korea-relationship-on-a-new-level-says-russian-foreign-minister-sergei-lavrov , acedido a 16.01.2024.
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