Os mísseis norte-coreanos na Ucrânia
Todos os dias verificamos notícias nos media que sintetizam a realidade da política internacional. A comunicação social tem apresentado diversas peças, sobretudo no problema inerente à ameaça da segurança mundial. Hoje em dia, presenciamos duas guerras que têm um destaque particular no palco das Relações Internacionais: o conflito armado entre a Federação Russa e a Ucrânia e também a guerra entre Israel e o Hamas.
Neste contexto, gostaria de falar sobre um tema específico, que surgiu após os Estados Unidos da América (EUA) e o Reino Unido (RU) anunciarem duras críticas direcionadas ao governo russo. Estes dois países criticaram o Kremlin, alegando que as Forças Armadas russas estão a utilizar mísseis norte-coreanos, com o intuito de atacar a Ucrânia. Por isso, gostaria de explorar este assunto, de uma forma pormenorizada.
De acordo com John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança nacional dos EUA, a Rússia disparou um conjunto de mísseis balísticos fornecidos pela Coreia do Norte, durante a primeira semana de janeiro. De facto, alguns oficiais das Forças Armadas dos EUA informaram os jornalistas que estes mísseis foram encontrados na região ucraniana de Zaporizhzhia. A declaração de Kirby corrobora as declarações publicadas pelas autoridades de inteligência sul-coreanas. Em novembro de 2023, a Coreia do Sul avisou a comunidade internacional, afirmando que Pyongyang enviou mais de 1 milhão de projéteis de artilharia para a Rússia.
No entanto, segundo um artigo publicado pelo The Guardian, um oficial da Força Aérea ucraniana comentou que a Ucrânia ainda não tinha confirmado se a Rússia havia utilizado mísseis produzidos pela Coreia do Norte. Existem poucas informações, sobre o material de guerra norte-coreano, mas relativamente aos mísseis balísticos, Kirby referiu que possuem um alcance de 900 km. O referido porta-voz do Conselho de Segurança norte-americano apresentou ainda a posição dos EUA nas Nações Unidas, relativamente a este assunto. Assim, os EUA iriam considerar o comércio de armas entre a Rússia e a Coreia do Norte como uma violação de um embargo internacional de armas.
Estas situações comprometem bastante a segurança internacional. Mas, ainda há mais detalhes para explorar. As autoridades norte-americanas acreditam que em troca dos mísseis balísticos, a Rússia está a fornecer material bélico ao governo norte-coreano. Este material inclui aviões de guerra, mísseis terra-ar, veículos blindados, entre outros equipamentos. O governo russo procurou desenvolver uma cooperação económica com a China, especialmente a partir do momento em que iniciou a sua intervenção militar na Ucrânia. Não obstante, fortaleceu a sua relação com o Irão e a Coreia do Norte, nomeadamente a nível militar.
Em outubro de 2023, Serguei Lavrov anunciou aos jornalistas que a relação entre a Federação Russa e o governo norte-coreano atingiu um "nível qualitativamente novo e estratégico". Estas declarações foram anunciadas após o encontro com a Ministra dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, Choe Son Hui, na capital norte-coreana.
Na minha opinião, o comércio de equipamentos militares entre a Rússia e a Coreia do Norte resulta dos embargos comerciais, que foram decretados aos respetivos países. Se, por um lado, a Rússia adquire a vantagem de renovar o seu estoque militar, tal ainda permite que Kim Jong-un obtenha receitas financeiras, para o seu país.
Por fim, a entrega dos mísseis norte-coreanos ao governo russo parece ser evidente, tendo em conta as situações mencionadas. No entanto, este tema constitui apenas um pequeno pormenor de uma guerra que não tem um fim à vista. Eu diria que as relações entre Estados não são construídas, tal como são as relações entre os seres humanos. A arte diplomática acompanha sempre o jogo da política internacional, que muitas vezes não é tão transparente, como deveria ser.

Pedro Moreira