
PIIGS – a reviravolta
Contrariamente ao hábito, e numa reviravolta inesperada, os países do Sul da Europa tiveram o melhor desempenho económico da Zona Euro dando tração à mesma, em resposta à estagnação e recessão que se vive nas economias do Norte e do Centro, agora privadas do barato petróleo russo.
Para contextualizar, o grupo dos PIIGS é composto por Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. Foram assim apelidados, sobretudo pela imprensa britânica, aquando das crises de 2008 e seguintes, nas quais as economias dos mesmos se encontravam extremamente fragilizadas e muito pouco competitivas, ao ponto de quase terem destruído o euro. Esta situação mereceu diversas críticas dos países do Norte que comparavam as mencionadas economias com “porcos”, associando-as a uma imagem negativa pela sua falta de organização económica, tendo a crítica mais polémica sido a acusação do Presidente do Eurogrupo Jeroen Dijsselbloem de que os países do Sul “desperdiçaram o dinheiro europeu em mulheres e vinho”.
Contudo, esta conjuntura alterou-se significativamente aquando da invasão russa da Ucrânia. Dependentes do petróleo russo, relativamente barato e de fácil acesso, as economias do Norte e do Centro (sobretudo a Alemanha) viram-se numa situação delicada. Por terem sido impostos diversos pacotes de sanções à Rússia, estas economias, que são os motores económicos da União Europeia, tiveram de tentar diversificar as suas fontes petrolíferas de modo a cortarem com a dependência russa, o que, logicamente, leva o seu tempo. Deste modo, privados (ou com acesso limitado) dos recursos russos, vitais para as suas indústrias, os países do Norte e Centro viram as suas economias estagnadas ou em recessão, o que é negativo para toda a União Europeia, com destaque para a Alemanha.
Espinha dorsal da União Europeia, a Alemanha ficou fortemente dependente do petróleo e gás natural russo durante a administração Merkel. Sendo estes recursos baratos, criou-se uma conjuntura que permitiu à Alemanha evoluir, tornando-se não apenas o motor económico da UE, mas numa das principais economias mundiais. Assim, a iminência de uma recessão alemã era um risco atroz para a UE, pois se a principal economia cai, todas as outras são arrastadas com ela.
Porém, esta realidade não se concretizou, graças aos chamados PIIGS, ou melhor, aos PIGS, tendo em conta que a Irlanda deixou de ser incluída neste grupo devido ao facto de a sua economia ter crescido de forma exponencial. Contra todas as expectativas, e fruto de esforços anteriores e da força do setor turístico, o FMI prevê agora que os referidos países cresçam cerca de dois pontos percentuais, chegando este ritmo a ser duas vezes mais significativo que muitas das economias centrais, afetadas pelo fecho da torneira de recursos naturais no Donbass.
Embora as economias do Sul mantenham determinadas fragilidades, muitos dos seus problemas foram resolvidos, o que potencia este crescimento que se prevê que diminuirá o fosso de PIB per capita entre os países centrais e os países periféricos, aliviando a dicotomia financeira Norte-Sul.
Verificamos, portanto, que a combinação de reformas, uma política monetária de apoio e um certo rigor orçamental permitiram os países do Sul tornarem-se mais competitivos em relação aos países centrais. Segundo os Indicadores Harmonizados de Competitividade da OCDE, a competitividade das economias portuguesa e espanhola aumentou consideravelmente, acompanhadas, embora a um nível diferente, pelas economias grega e italiana, o que nos dá confiança para afirmar que o risco de uma nova crise da dívida soberana europeia surgir dos países do Sul é relativamente baixo.
Miguel Fontes